10.12.08

"Vou-te contar o tal segredo. É muito simples: só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos..."


" - A minha vida é monótona. Mas se tu me cativas, a minha vida será como que cheia de sol. Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros. Os outros passos fazem-me entrar debaixo da terra. O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música. E depois, olha! Vês, lá longe, os campos de trigo? Eu não como pão. O trigo para mim é inútil. Os campos de trigo não me lembram coisa alguma. E isso é triste! Mas tu tens cabelos cor de ouro. Então será maravilhoso quando me tiveres cativado. O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti. E eu amarei o barulho do vento no trigo...
– Por favor... Cativa-me! – Disse a raposa.
– Bem quisera, disse o principezinho. Mas tenho pouco tempo e amigos a descobrir e coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens já não têm tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo pronto nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, eles já não têm amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!
– Que é preciso fazer?

– É preciso ser paciente. Primeiro, sentas-te um bocadinho afastado de mim. Eu te olharei e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal entendidos. Mas cada dia irás sentar-te mais perto... E virás sempre à mesma hora. Se tu vens às 4, desde as 3 eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às 4 horas, então, eu estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade. Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração...
Assim, o principezinho cativou a raposa. Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
– A culpa é tua, disse o principezinho. Eu não queria fazer-te mal, mas tu quiseste que eu te cativasse...
– Quis.
– Mas tu vais chorar!
– Vou.
– Então não ganhas nada!
– Ai isso é que ganhei! Por causa da cor do trigo."


“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas...”

(in “O Principezinho”, Antoine de Saint-Exupéry)

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