11.4.09


"Juntos, tentavam prolongar a ilusão de que o vício de um outro corpo é incurável. Diz-se que é uma questão de pele. Desculpas. Pele é pele, dedos são dedos, alavancas são alavancas. E por aí fora; é uma questão de fantasia. Uma questão de literatura. Rigorosamente, ela não precisava dele para fornicar. Ninguém precisa de ninguém para o exercício do sexo - do que todos precisamos é do amor dos outros. O amor pequeno, parcelar, da ternura e da vaidade; e o amor grande, que se nos entranha como um órgão imaterial e nos faz respirar por toda a vida. 

Acordar dentro do amor da pessoa amada; encontrar o cheiro quente da felicidade nos lençóis escangalhados pela solitária viagem dos sonhos. Olhavam um para o outro e pensavam em uníssono: como? Como podiam ter vivido longe um do outro? Que importância tinham as mesquinhices que os haviam separado? «Ainda bem que correste atrás de mim, naquela noite», dizia ele. «Enganas-te; corri atrás de mim mesma», dizia ela. Era um dizer sem palavras, o deles, de cérebro a cérebro. Aquela relação dispensava conversas; ambos viam as palavras flutuando, iluminadas, sobre as carícias partilhadas. Temiam que, começando a falar, essas palavras exactas, frágeis, absolutamente silenciosas, se quebrassem."

Um comentário:

estrelinha disse...

dsclp ter roubado a tua imagem...vi na net e gostei mt!

dsclp amor!